quarta-feira, 9 de março de 2011

Certa vez caiu-me às mãos um livro de autor desconhecido.
Ainda que a capa parecesse um pouco alongada, apresentando certa desproporção, visualmente tinha seus apelos. Pus na estante.
Abria aleatoriamente, observando uma ou outra imagem, ao longo de alguns anos: fotos interessantes. Eventualmente, me detive numa leitura atenta.
Desapontado, quedei desapontado...
Se mesmo numa capa desproporcional o título parecia interessante, o texto não revela qualquer qualidade positiva. Tema vulgar e provocador vulgarmente abordado, no entanto. Nenhuma revelação importante; figuras que jogam num nível absolutamente superficial; somente os tipos envolvidos vêm, eles mesmos, espessura nas próprias atividades. Ninguém, além deles, veria relevância naquelas relações.
O encanto produzido pelas imagens estava desfeito. Para um leitor muito interessado pelo visual foi uma experiência decepcionante: imagens foram usadas gratuitamente na construção daquela coisa.
Mas vale a pena identificar essa qualidade de objeto, para resguardar-se e não dirigir atenção desmerecida para entidades dessa mesma natureza. Estarei atento a quaisquer coisas que porventura sejam originadas na mesma autoria.
Em suma, extraí as imagens, armazenei com cuidado e incinerei o que sobrou.

terça-feira, 8 de março de 2011

Forneço “KIT PARA LIMPEZA PÓS-CARNAVAL”
Soluções eficientes para uso externo e cavidades.
Advertência: não produz efeitos na alma; se a folia deixou no seu espírito resíduos pútridos, procure um sacerdote ou sacerdotisa da sua seita.
Se você não é do tipo místico, ligue para o(a)  seu(sua) terapeuta; Bom, se lhe passar à cabeça que ele, ou ela, pode estar passando pelo mesmo problema, você provavelmente estará jogando dinheiro fora.
Melhor será se você não registra os danos à sua alma; Nem todos o fazem; para tanto, certa sensibilidade é necessária. Nesse caso: use o KIT, limpe sujeiras externas, dobras e cavidades e estará preparado(a) para novas FESTAS, ENSAIOS, FORRÓS, ...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Este blog não pretende agradar.
É apenas uma grande imprecação silenciosa;


Procuro o impossível...
Uma lagoa de águas que reflitam o céu.
Límpidas, capazes saciar a sede,
e que abriguem peixes saudáveis para saciar a fome.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diálogo da noite passada

- Quem é você? (perguntou ela, sem pudor).

- Ninguém importante, sou o porteiro do cemitério.

- Ao menos trabalha em um lugar interessante.

- Depende do ponto de vista.

- Na minha cidade não há porteiro no cemitério. Ninguém quer entrar lá. (sorriu).

- Bom, além de porteiro, sou coveiro e zelador; algo como serviços gerais.

- Huuuum, chick! Trabalhador mesmo. (desdenhou).

- Chiquérrimo!

- Tripla jornada de trabalho; assim, fica rico.

- Já estou. Tenho adicional de insalubridade: quinze por cento do salário; mínimo.
  Ainda que haja certos agravantes do ponto de vista do olfato.

- Além de rico, bem sucedido e bem humorado: um homem perfeito. Assim só no cemitério, mesmo.

- Perfeito, longe disso... Tenho enormes defeitos.

- Tem nada. Homens encontrados em cemitérios são perfeitos.

- Tenho, sim. O de maior relevância, contudo, é o meu bom-gosto: não fosse meu cruel bom-gosto, estaria bem; Homens encontrados no cemitério não são bons o bastante para certas pessoas: não podem maltratar, não mais.
   Meu pior defeito: não ser um troglodita; muitas pessoas procuram trogloditas.

- Se o troglodita for bonitinho, vale a pena.

- E há. Muitos.  


Conclusão: para desconstruir a dor de ser só
uma alma solitária aceita conversas pequenas.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Silêncio involuntário

Uma jovem mulher me enviou um e-mail.
Reclamava; em sua opinião, eu deveria escrever mais.
Gosta a moça dos meus rabiscos.
Parece o tipo de figura que, se por trás da figura feminina há uma pessoa, é adorável. A julgar pela polidez exemplar, pode ser esse o caso.

Decidi, então, responder aqui, para desconstruir o nível pessoal.
Assim evito interessar-me, pois ela poderia desenvolver a intenção de me conhecer a matéria;
repetir-se-ia a história: findaria por me tratar como “amigo”, enviando-me "abraços" com o óbvio objetivo de manter-me à distância..

Eis a resposta:
Compreendo seu desejo de ler mais sobre minha solidão, enquanto indago-me por que.
Uma linda jovem mulher tem a chance de escolher companhia aos montes.
Por que o interesse pela solidão? Provavelmente uma cientista investigando casos.
Na condição de pretenso pesquisador, respondo do modo mais honesto e direto, com o intuito de contribuir.

A razão para o silêncio, a ausência recente de expressões neste blog é a promiscuidade na qual  a condição de homem só, me leva a submergir.
E, nesse caso, a minha ausência foi causada por uma das mais contundentes figuras desse meu existir promíscuo: além das já mencionadas Solidão, Tristeza e Angústia há outra, a Dor.
Perdão, doce menina: a Dor é, por vezes, tão lancinante que provoca estupor, imobiliza.
Congela corpo e alma.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Autorretrato

                                                                  Sem legendas...
                                            Observe com alguma atenção.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Leżajsk - XVII ct pipe organ - J S Bach, Toccata and Fugue in d minor, B...

Repetição

Gosto da Tocata e fuga em ré menor de Johann
Sebastian Bach.

Tudo me fascina: o timbre do órgão, a melodia, a
imersão nessa atmosfera na qual Bach nos
projeta.

Sem sublinhar os aspectos particulares da
harmonia no Barroco e as querelas acerca da
autoria.

Refiro-me à experiência sonora em si, deixar-se
para a música e sentir-se revolvido, desde os
poros até a alma. Em momentos assim, minha
solidão entristece, sente-se ameaçada, pois sou
feliz. Repito a música, divago. Suave e profunda
sensação.

No entanto, m., esses momentos passam e o
poderoso trio que me acompanha, trancafia os
acordes, acorrenta as dissonâncias. Juntas,
Solidão, Tristeza e Angústia tocam em uníssono
absoluto, perpetuando uma única nota.

Um acutíssimo intermitente que não se pode
ouvir, uma oitava tão acima da minha limitação
auditiva que só posso sentir com o espírito.

Sua posição nessa escala inumana, sua
intermitência, a persistência no mesmo volume
imaterial, aterrorizante, gera uma repetição
dolorida e cortante como uma lâmina de navalha
que me corta o plexo e só percebo que fui
atacado quando as entranhas me rolam carcaça a
fora, misturando-se com a lama onde chafurdo.

(Para m., com admiração)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ode à desafiante anônima (Apenas sinal de apreço. Sem desafios: prefiro carinhar penteando longos cabelos molhados).



"É bom, estar protegida...
Sinto-me segura, fora das úmidas sarjetas.

Aqui sou examinada e me observam, declaradamente.


Lá fora, tudo parece deserto, mas sei, ... eu sei:
Mil olhos vasculham, vigiam!

Naquele espaço que se abre, o desconhecido ameaça a cada esquina.

Dentro do meu nicho hermeticamente selado,
atrás desse vidro rijo e impessoal, sou inexpugnável.

Protegida... Estou, estou... segura...
...

Não, isso não é uma lágrima... nãão, não; é...
Transpiro, apenas transpiro... Aquecida, é isso, está, essas roupas... Está quente. Melhor, estou aquecida...

Lágrima?
...

Esse sabor de sal que me escorre pela face...
... Se for uma lágrima, vem da minha alma.
Ela sim, incontrolável.

Choro. (Em silêncio).

Basta!

Engana-se aquele que vê mim um fantoche, uma boneca para ser manejada por cordéis!!!
Quero arrancar essas vestes asfixiantes, estilhaçar o vidro puro, destruir a moldura púrpura e caminhar, saltar, gritar impropérios, correr nua pelas úmidas ruas.

Enrubescer olhares perturbados diante da liberdade explicita".


Escrevi, provocado por Warrall, para prestar-te uma homenagem


WORRAL, Mike. Windows of Portent, oil on canvas, 122x12cm, 2008. Disponível em <http://www.mikeworrall.com/gallery_2008.html>  Último acesso 31-01-2010

Os seres humanos devem muito aos artistas.
Não fossem eles, não se conheceria amor como aquele que testemunhamos em La Bohème.  
Ou, como esperar que o vizinho de qualquer um de nós tenha ao seu lado uma Leonore, como aquela doada a Florestan por Bouilly e Beethoven, em Fidelio?
A ficção corporifica um amor que inexiste fora dela.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sem título

Este é um blog sobre solidão.
Uma vez que as mulheres interessantes estão felizes, bem amadas, permaneço sozinho...