terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diálogo da noite passada

- Quem é você? (perguntou ela, sem pudor).

- Ninguém importante, sou o porteiro do cemitério.

- Ao menos trabalha em um lugar interessante.

- Depende do ponto de vista.

- Na minha cidade não há porteiro no cemitério. Ninguém quer entrar lá. (sorriu).

- Bom, além de porteiro, sou coveiro e zelador; algo como serviços gerais.

- Huuuum, chick! Trabalhador mesmo. (desdenhou).

- Chiquérrimo!

- Tripla jornada de trabalho; assim, fica rico.

- Já estou. Tenho adicional de insalubridade: quinze por cento do salário; mínimo.
  Ainda que haja certos agravantes do ponto de vista do olfato.

- Além de rico, bem sucedido e bem humorado: um homem perfeito. Assim só no cemitério, mesmo.

- Perfeito, longe disso... Tenho enormes defeitos.

- Tem nada. Homens encontrados em cemitérios são perfeitos.

- Tenho, sim. O de maior relevância, contudo, é o meu bom-gosto: não fosse meu cruel bom-gosto, estaria bem; Homens encontrados no cemitério não são bons o bastante para certas pessoas: não podem maltratar, não mais.
   Meu pior defeito: não ser um troglodita; muitas pessoas procuram trogloditas.

- Se o troglodita for bonitinho, vale a pena.

- E há. Muitos.  


Conclusão: para desconstruir a dor de ser só
uma alma solitária aceita conversas pequenas.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Silêncio involuntário

Uma jovem mulher me enviou um e-mail.
Reclamava; em sua opinião, eu deveria escrever mais.
Gosta a moça dos meus rabiscos.
Parece o tipo de figura que, se por trás da figura feminina há uma pessoa, é adorável. A julgar pela polidez exemplar, pode ser esse o caso.

Decidi, então, responder aqui, para desconstruir o nível pessoal.
Assim evito interessar-me, pois ela poderia desenvolver a intenção de me conhecer a matéria;
repetir-se-ia a história: findaria por me tratar como “amigo”, enviando-me "abraços" com o óbvio objetivo de manter-me à distância..

Eis a resposta:
Compreendo seu desejo de ler mais sobre minha solidão, enquanto indago-me por que.
Uma linda jovem mulher tem a chance de escolher companhia aos montes.
Por que o interesse pela solidão? Provavelmente uma cientista investigando casos.
Na condição de pretenso pesquisador, respondo do modo mais honesto e direto, com o intuito de contribuir.

A razão para o silêncio, a ausência recente de expressões neste blog é a promiscuidade na qual  a condição de homem só, me leva a submergir.
E, nesse caso, a minha ausência foi causada por uma das mais contundentes figuras desse meu existir promíscuo: além das já mencionadas Solidão, Tristeza e Angústia há outra, a Dor.
Perdão, doce menina: a Dor é, por vezes, tão lancinante que provoca estupor, imobiliza.
Congela corpo e alma.