Diálogo da noite passada
- Quem é você? (perguntou ela, sem pudor).
- Ninguém importante, sou o porteiro do cemitério.
- Ao menos trabalha em um lugar interessante.
- Depende do ponto de vista.
- Na minha cidade não há porteiro no cemitério. Ninguém quer entrar lá. (sorriu).
- Bom, além de porteiro, sou coveiro e zelador; algo como serviços gerais.
- Huuuum, chick! Trabalhador mesmo. (desdenhou).
- Chiquérrimo!
- Tripla jornada de trabalho; assim, fica rico.
- Já estou. Tenho adicional de insalubridade: quinze por cento do salário; mínimo.
Ainda que haja certos agravantes do ponto de vista do olfato.
- Além de rico, bem sucedido e bem humorado: um homem perfeito. Assim só no cemitério, mesmo.
- Perfeito, longe disso... Tenho enormes defeitos.
- Tem nada. Homens encontrados em cemitérios são perfeitos.
- Tenho, sim. O de maior relevância, contudo, é o meu bom-gosto: não fosse meu cruel bom-gosto, estaria bem; Homens encontrados no cemitério não são bons o bastante para certas pessoas: não podem maltratar, não mais.
Meu pior defeito: não ser um troglodita; muitas pessoas procuram trogloditas.
Meu pior defeito: não ser um troglodita; muitas pessoas procuram trogloditas.
- Se o troglodita for bonitinho, vale a pena.
- E há. Muitos.
Conclusão: para desconstruir a dor de ser só
uma alma solitária aceita conversas pequenas.
uma alma solitária aceita conversas pequenas.
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